quinta-feira, 19 de maio de 2011

Policial se apresenta, mas fica calado


O soldado Pedro Saldanha da Silva, que tem 39 anos e é o principal suspeito de ter assassinado José Abreu Neto, que tinha 45 anos e também era soldado da Polícia Militar, apresentou-se ontem à tarde na Delegacia Regional de Mossoró. Ao contrário do que todos imaginavam, o policial não quis falar sobre o assassinato do colega. Depois de realizar os procedimentos necessários, o militar foi liberado para aguardar as investigações em liberdade. Agora, a investigação procura provas para poder indiciá-lo.

Lembre o Fato: Tiroteio envolvendo dois Policiais

Saldanha foi à Delegacia Regional de Mossoró, acompanhado de seu advogado, no início da tarde de ontem. Edvan Queiroz, delegado responsável pela investigação, reconhece que a decisão do militar de não confessar o crime poderá dificultar as investigações, mas lembra que existem outros tipos de provas para serem colhidas. O fato de o crime estar diretamente ligado a dois policiais militares - um é vítima e outro é suspeito - pode ser um outro agravante para as investigações. O único depoimento colhido até então mostra isso. O depoente diz que viu os dois juntos, mas não presenciou o crime.
Ao ser questionado sobre possíveis dificuldades para encontrar testemunhas do crime, Edvan prefere não confirmar. "É um crime que não resta dúvida de quem o cometeu. O fato de ele (Saldanha) vir aqui e não querer falar não muda nada. É público e notório quem efetuou os disparos naquela noite. Então, agora vamos reunir provas e encaminhar o inquérito ao Ministério Público Estadual", explica o delegado, acrescentando que, por enquanto, não pretende solicitar ordem de prisão contra o policial. "Ele se apresentou, tem residência fixa... Não há motivos para isso agora", esclarece.
Por lei, o suspeito não é obrigado a prestar depoimento na fase investigatória, que comente à Polícia. Foi se baseando nesse princípio que a defesa do militar decidiu não falar, deixando para a fase do juízo. Inicialmente, a Polícia esperava que o militar confessasse o crime, possivelmente alegando legítima defesa. Com o silêncio do policial, muitas dúvidas permanecem sobre o caso. Ainda não se sabe ao certo se o soldado Abreu estava armado. No momento em que ele foi encontrado caído, após ser baleado, não havia nenhuma arma, o que desqualifica a versão de uma troca de tiros na rua.

A única certeza, até então, é quanto ao motivo da discussão entre os dois policiais, que até então mantinham uma convivência pacífica, segundo informações colhidas pelo DE FATO. Abreu foi assassinado na noite de segunda-feira passada, 16. Um dia antes, o carro do seu filho havia sido apreendido em Baraúna, quando o soldado Saldanha e outros policiais estavam de serviço na cidade. Abreu mostrou-se insatisfeito com a conduta dos colegas e chegou a procurar o comando do Batalhão da Polícia Militar de Mossoró para se queixar. Na segunda, encontrou-se com Saldanha em um bar da cidade.

Segundo o depoimento da única testemunha ouvida até ontem, os dois sentaram-se à mesma mesa e passaram a conversar amistosamente. Depois de alguns minutos, a testemunha contou que houve uma certa exaltação nos ânimos. "Ele disse que viu os dois juntos, mas dizer que viu Saldanha atirar não disse. É assim mesmo. Por tabela, a gente vai colhendo esses depoimentos e eles vão ajudando a esclarecer o que realmente aconteceu", conta Edvan Queiroz. Após os disparos, a testemunha contou que viu Abreu caído e não encontrou mais Saldanha, que já havia saído do local às pressas.


Após assassinato, PM continua trabalhando
A Polícia Militar vai investigar a conduta do soldado Pedro Saldanha da Silva, que tem mais de 10 anos na corporação, através de um Conselho de Disciplina. Se o crime tivesse ocorrido a serviço da PM, seria aberto um Inquérito Policial Militar (IPM), além do inquérito instaurado pela Polícia Civil.
O prazo inicial para que o Conselho de Disciplina se posicione sobre o caso é de 40 dias, podendo ser prorrogado.
Enquanto durar o processo militar, o soldado Saldanha continuará trabalhando e recebendo salário normalmente.

"Ele só deixaria de receber se fosse expulso definitivamente da Polícia Militar", explica o major Walmery Costa, subcomandante do Segundo Batalhão da PM em Mossoró.
Por enquanto, segundo o major, ainda não foi definida a função que Saldanha deverá exercer durante os próximos dias. A única certeza é que ele não voltará ao serviço de rua.
Dentro do Batalhão existem funções administrativas, como o setor de estatística, oficina, rancho, além de outros, como o atendimento no Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (CIOSP), segurança interna do prédio, etc..
"A gente vai procurar uma função de acordo com as habilidades dele. A única certeza é que ele não volta, pelo menos agora não, ao serviço de rua", garante o subcomandante.
Após o processo interno, o policial militar poderá ser punido com uma mera suspensão ou até mesmo expulsão da PM.

Defato - Andrey Ricardo

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