Lobão fez a abertura da VII Feira do Livro de Mossoró; entre frases de efeito, risadas e palavrões, além de arrogância para com a plateia, o músico disse que adora ser ele
“Eu
me amo, eu me amo / Não posso mais viver sem mim”. O refrão da música
Eu me Amo, do grupo Ultraje a Rigor sintetiza bem a noite de abertura da
VII Feira do Livro de Mossoró, que aconteceu ontem, 9. Na verdade,
sintetiza bem o personagem que subiu ao palco para falar sobre tudo,
menos literatura...
Lobão, aos 50 anos, continua falando à
toa. Língua solta. Não leva a sério o conselho do velho Machado de
Assis: “Há coisas que melhor se dizem calando”. Lobão retira o verbo
calar e acrescenta falar, além de um “muito, muito mesmo”. Mas esse é
seu estilo. Frases de efeito, algumas com palavras difíceis. Há também
construções verbais que o músico gosta de repetir.
Mas suas predileções são para a
linguagem chula, mesmo sabendo que na plateia muitas crianças o
assistiam, além de autoridades locais, incluindo a prefeita do município
e a gerente de Educação. Enfim, uma mescla de rebuscado com um tosco e
polêmicas, claro, que ele não deixaria barato. É uma espécie de
marketing, sob o sorriso de alguns. “Acho sua pergunta muito ridícula”,
rebateu a um jovem, que lhe questionou como a geração dele (a do jovem)
veria, no futuro, a geração de Lobão (o “velho”).
'Engenheiros do Hawaii e Biquíni Cavadão são uma m...', disse o músico
Mas antes da primeira pergunta, quando
estava sendo apresentado pelo jornalista e professor da Uern Tobias
Queiroz, ele o interrompeu. “Pô, Tobias, vamos fazer diferente... vamos
interagir. É melhor que me façam perguntas”, recomendou, quebrando o
protocolo. Também orientou aos fotógrafos. “Pessoal, ei, fotógrafos! Não
fiquem aí na frente, tomando a visão. Vou dar um conselho: fiquem
circulando, circulando de um lugar para outro”. E muita gente aplaudiu.
Ele reclamou do som, também do vento sobre o microfone. Pediu até um
abanador, mesmo usando uma bermuda e muito à vontade. Sorriu...
Quando as perguntas começaram,
principalmente de muitos jovens que não viveram a década de 80 e que
esperavam do músico respostas com tom de nostalgia, houve certa
frustração. “Nada, cara. O ápice do rock não foi na década de 80 e sim
na década de 60. Essa coisa de nostalgia não rola”, comentou.
Sobre o próprio livro foram poucas as
referências. Num determinado momento, quando perguntado acerca de sua
memória, disse que havia escrito muito mais do que aquilo que estava
ali. “Eram umas 800 páginas. Aí só tem pouco mais de 300”. E a que se
devia essa memória tão boa? Lobão não se rendeu a responder que foram
“as drogas”, sob o aplauso de alguns, num momento em que o país combate o
uso e o tráfico de entorpecentes, inclusive com campanhas na televisão.
Além disso, em nenhum momento o músico citou um livro sequer...
‘ENGENHEIROS E BIQUÍNI SÃO UMA M...’
– Em um dos momentos ele disse que as bandas Engenheiros do Hawaii e
Biquíni Cavadão eram “uma m...”. Mais adiante, acrescentou que “as
pessoas se ofendem à toa. Nada é pessoal. A democracia vive da opinião
expressa de forma discordante também. Há pessoas que acham que sou um
m... Mas eu tenho o direito de achar uma m... quem eu quiser”, tentou se
explicar, dizendo que Luciano Huck e Xuxa faziam parte do ibope e que
eram manipuladores da massa. “Lobão é um filho da p...”, esclareceu, o
próprio. Houve certo clima de “uuuuu” no ar, quando o músico se referiu
às duas bandas. Mas foram manifestações tímidas...
Nada modesto, destacou: “A música de
hoje sou eu”, disse, sorrindo. “Quem sou eu para olhar para os anos 80? À
época, muitos grupos imitavam bandas famosas. A gente ouvia e
identificava logo”, falou. “Já ouvi muita coisa horrorosa no rádio. É
melhor ouvir a 5º Sinfonia de Beethoven do que Luan Santana”... “Mas eu
saí do Rio por causa do chorinho. Pô, eu sei tocar chorinho. Acho uma
porcaria o protesto da MPB, aquele banquinho, aquele violão, o chapéu.
Eles tocam até com o dedo mindinho afastado. Por quê? Tocam com nojo?”,
ironizou. “Já o rock só se desenvolve mesmo em país de primeiro mundo. O
brasileiro é muito barroco”, explicou. “A grande segregação que sofri
quando comecei vinha de pessoas mais velhas do que eu. Hoje, vem de
pessoas mais novas do que eu”, disse.
ÍDOLOS HUMILHADOS –
Sobre o programa de televisão que tenta revelar novos talentos para a
música brasileira, Lobão salientou: “nunca vi um ídolo sendo humilhado”.
“Acho uma sacanagem com quem faz música. 85% são profissionais. Esse
modelo não serve para destacar o trabalho de ninguém”, comentou. “As
pessoas interessantes estão nascendo agora. Sou contra essa história de
dizer que vamos varrer o lixo musical. A gente pode escolher o que
quiser. Essa coisa de varrer o lixo cultural pode tornar as pessoas em
uma espécie de Hitler”, frisou. “O lixo cultural sempre vai existir”.
Sobre ele próprio, “como não poderia deixar de ser”, acrescentou: “Sempre fui um bundão revoltado (...), porém, adoro ser eu!”.
Para muita gente que espera mais
literatura na Feira do Livro, a expectativa é de que amanhã, 11, Frei
Betto, religioso e escritor, amenize o clima nada literário deixado por
Lobão...
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