quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Mossoró - RN: Uma noite de muitos palavrões e pouca literatura

Lobão fez a abertura da VII Feira do Livro de Mossoró; entre frases de efeito, risadas e palavrões, além de arrogância para com a plateia, o músico disse que adora ser ele












“Eu me amo, eu me amo / Não posso mais viver sem mim”. O refrão da música Eu me Amo, do grupo Ultraje a Rigor sintetiza bem a noite de abertura da VII Feira do Livro de Mossoró, que aconteceu ontem, 9. Na verdade, sintetiza bem o personagem que subiu ao palco para falar sobre tudo, menos literatura...

Lobão, aos 50 anos, continua falando à toa. Língua solta. Não leva a sério o conselho do velho Machado de Assis: “Há coisas que melhor se dizem calando”. Lobão retira o verbo calar e acrescenta falar, além de um “muito, muito mesmo”. Mas esse é seu estilo. Frases de efeito, algumas com palavras difíceis. Há também construções verbais que o músico gosta de repetir.

Mas suas predileções são para a linguagem chula, mesmo sabendo que na plateia muitas crianças o assistiam, além de autoridades locais, incluindo a prefeita do município e a gerente de Educação. Enfim, uma mescla de rebuscado com um tosco e polêmicas, claro, que ele não deixaria barato. É uma espécie de marketing, sob o sorriso de alguns. “Acho sua pergunta muito ridícula”, rebateu a um jovem, que lhe questionou como a geração dele (a do jovem) veria, no futuro, a geração de Lobão (o “velho”).

'Engenheiros do Hawaii e Biquíni Cavadão são uma m...', disse o músico

Mas antes da primeira pergunta, quando estava sendo apresentado pelo jornalista e professor da Uern Tobias Queiroz, ele o interrompeu. “Pô, Tobias, vamos fazer diferente... vamos interagir. É melhor que me façam perguntas”, recomendou, quebrando o protocolo. Também orientou aos fotógrafos. “Pessoal, ei, fotógrafos! Não fiquem aí na frente, tomando a visão. Vou dar um conselho: fiquem circulando, circulando de um lugar para outro”. E muita gente aplaudiu. Ele reclamou do som, também do vento sobre o microfone. Pediu até um abanador, mesmo usando uma bermuda e muito à vontade. Sorriu...

Quando as perguntas começaram, principalmente de muitos jovens que não viveram a década de 80 e que esperavam do músico respostas com tom de nostalgia, houve certa frustração. “Nada, cara. O ápice do rock não foi na década de 80 e sim na década de 60. Essa coisa de nostalgia não rola”, comentou.

Sobre o próprio livro foram poucas as referências. Num determinado momento, quando perguntado acerca de sua memória, disse que havia escrito muito mais do que aquilo que estava ali. “Eram umas 800 páginas. Aí só tem pouco mais de 300”. E a que se devia essa memória tão boa? Lobão não se rendeu a responder que foram “as drogas”, sob o aplauso de alguns, num momento em que o país combate o uso e o tráfico de entorpecentes, inclusive com campanhas na televisão. Além disso, em nenhum momento o músico citou um livro sequer...

‘ENGENHEIROS E BIQUÍNI SÃO UMA M...’ – Em um dos momentos ele disse que as bandas Engenheiros do Hawaii e Biquíni Cavadão eram “uma m...”. Mais adiante, acrescentou que “as pessoas se ofendem à toa. Nada é pessoal. A democracia vive da opinião expressa de forma discordante também. Há pessoas que acham que sou um m... Mas eu tenho o direito de achar uma m... quem eu quiser”, tentou se explicar, dizendo que Luciano Huck e Xuxa faziam parte do ibope e que eram manipuladores da massa. “Lobão é um filho da p...”, esclareceu, o próprio. Houve certo clima de “uuuuu” no ar, quando o músico se referiu às duas bandas. Mas foram manifestações tímidas...

Nada modesto, destacou: “A música de hoje sou eu”, disse, sorrindo. “Quem sou eu para olhar para os anos 80? À época, muitos grupos imitavam bandas famosas. A gente ouvia e identificava logo”, falou. “Já ouvi muita coisa horrorosa no rádio. É melhor ouvir a 5º Sinfonia de Beethoven do que Luan Santana”... “Mas eu saí do Rio por causa do chorinho. Pô, eu sei tocar chorinho. Acho uma porcaria o protesto da MPB, aquele banquinho, aquele violão, o chapéu. Eles tocam até com o dedo mindinho afastado. Por quê? Tocam com nojo?”, ironizou. “Já o rock só se desenvolve mesmo em país de primeiro mundo. O brasileiro é muito barroco”, explicou. “A grande segregação que sofri quando comecei vinha de pessoas mais velhas do que eu. Hoje, vem de pessoas mais novas do que eu”, disse.

ÍDOLOS HUMILHADOS – Sobre o programa de televisão que tenta revelar novos talentos para a música brasileira, Lobão salientou: “nunca vi um ídolo sendo humilhado”. “Acho uma sacanagem com quem faz música. 85% são profissionais. Esse modelo não serve para destacar o trabalho de ninguém”, comentou. “As pessoas interessantes estão nascendo agora. Sou contra essa história de dizer que vamos varrer o lixo musical. A gente pode escolher o que quiser. Essa coisa de varrer o lixo cultural pode tornar as pessoas em uma espécie de Hitler”, frisou. “O lixo cultural sempre vai existir”.

Sobre ele próprio, “como não poderia deixar de ser”, acrescentou: “Sempre fui um bundão revoltado (...), porém, adoro ser eu!”.

Para muita gente que espera mais literatura na Feira do Livro, a expectativa é de que amanhã, 11, Frei Betto, religioso e escritor, amenize o clima nada literário deixado por Lobão...

GazetadoOeste

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