quarta-feira, 24 de agosto de 2011

RN: Governo descumpre acordo com Polícia Civil

Pouco mais de um mês depois de ser firmado um termo para a retirada de presos das delegacias do Estado, o cenário de superlotação desses locais voltou a se repetir. A Delegacia de Plantão da zona Sul abrigava ontem 39 detentos, dos quais dois eram mantidos do lado de fora da única cela da unidade. A situação fere o acordo firmado entre a Secretaria de Estado Justiça e Cidadania (Sejuc) e os agentes da Polícia Civil, que mantiveram 56 dias de greve. A retirada das pessoas era termo determinante para o fim da paralisação e não foi cumprida no prazo estabelecido perante à Justiça.
adriano abreuOntem, dois presos estavama algemados nos corredores da delegacia, pois as celas não tinham espaçoOntem, dois presos estavama algemados nos corredores da delegacia, pois as celas não tinham espaço















No dia 13 de julho passado teve término a maior greve da história da Polícia Civil do Rio Grande do Norte. A categoria havia alcançado por parte do Governo a garantia da retirada dos presos das delegacias de plantão. O prazo de 30 dias para o cumprimento do acordo já venceu desde a metade deste mês. Durante a semana passada, o secretário Thiago Cortez se reuniu com representantes do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol) e reiterou o compromisso, ainda não cumprido.

Na manhã de ontem, as cenas já vistas pela mesma equipe de reportagem em pelo menos três outras oportunidades nos quatro meses passados se repetiu: superlotação na única cela e presos mantidos fora dela. Além das faltas de condições mínimas de higiene, chama atenção a possibilidade iminente de fuga dos apenados. Aglomerados, os próprios detentos alertam: "cada vez que bota mais um é como dar gás a um bomba".

A frase é de André Alessandro, de 27 anos, detido há 45 dias na unidade. Nesse intervalo, ele presenciou o esvaziamento realizado na cela, quando apenas seis pessoas ficaram na cela. Hoje, voltou a viver a realidade. "Não levou muito tempo para voltar a ficar lotado aqui. Meu advogado está tentando fazer com que eu cumpra pena em regime semi-aberto", informou.

Do lado de fora da cela, presos apenas por algemas, estão Geovanaldo dos Caxias e Flávio Nery da Silva. O primeiro, paraplégico, foi detido em flagrante por tráfico de drogas em Parnamirim. O segundo, baleado na perna, foi detido por furto. Flávio Nery treme em virtude do ferimento, que suja de sangue o lençol branco que o cobre.

O mais assustador é perceber que durante dias da semana poucas pessoas fazem a guarda dessa quantidade de pessoas. Ontem, havia dois agentes que estavam no local no momento em que foi realizada a reportagem. Deslocados da Delegacia Geral de Polícia (Degepol), eles formam a equipe de transferência que fica no local das 8h às 18h - período que a Delegacia de Plantão não funciona com atendimento ao público. Os agentes têm a função desviada para prestar atenção nos apenados.

Na Delegacia de Plantão da zona Norte a situação é menos grave, mas ainda assim fere o acordo entre o Estado e os agentes. Lá, são mantidos 10 presos, dos quais todos tiveram entrada recente - três dias é o período do preso mais antigo da unidade.

Para o vice-presidente do Sinpol, Djair Oliveira, a Sejuc está "empurrando com a barriga" a responsabilidade de retirar os presos. "Tínhamos um termo que foi firmado perante à Justiça e a Sejuc não cumpriu. Semana passada nos reunimos e o secretário garantiu o compromisso. Estamos aguardando", declarou Djair.

Superlotação das plantões já vinha sendo denunciada

Em pelo menos outras três oportunidades, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE flagrou a superlotação das celas e as condições degradantes nas quais presos eram mantidos, inclusive sendo algemados a grades e motocicletas em virtude da falta de capacidade da cela. Em junho, a situação pareceu começar a mudar quando poucas pessoas eram mantidas no local. O cenário não demorou para retornar ao comum.
júnior santosNo dia 20 de maio passado, a TN flagrou dois presos algemados em motocicletas na Plantão Zona SulNo dia 20 de maio passado, a TN flagrou dois presos algemados em motocicletas na Plantão Zona Sul

No dia 13 de julho passado, Após 56 dias de paralisação e inúmeras rodadas de negociação, os agentes e escrivães da Polícia Civil decidiram aceitar as propostas do Governo e suspender a greve da categoria. As partes chegaram a acordo, durante audiência de conciliação no Tribunal de Justiça, sob a mediação do juiz convocado Francisco de Assis Brasil.

 O encontro, que durou mais de quatro horas, acabou com a maioria dos pleitos dos trabalhadores encaminhados.

Entre as conquistas alcançadas pelos trabalhadores estavam o pagamento de vales-refeição no valor de R$ 10,00; o estabelecimento do serviço terceirizado de limpeza nas delegacias do estado a partir do dia 6 de setembro e a reforma da Lei 270/2004 (Estatuto da Polícia Civil). Além disso, a categoria conseguiu do Governo a garantia da retirada dos presos da 7ª DP , da 14ª DP e das delegacias de plantão das zonas Norte e Sul em um prazo de trinta dias, bem como a retirada de policiais militares e "pessoas estranhas" ao quadro da Policia Civil das delegacias do interior.  "Infelizmente, a Sejuc está empurrando o problema com a barriga", diz Djair Oliveira, do Sinpol.

As estrutura da Polícia Civil no interior do Estado estão sofrendo com a adoção das medidas previstas no acordo - como a retirada dos policiais militares do quadro. Muitas delegacias deixaram de contar com a maior parte do seu efetivo e estão com as atividades paralisadas. Para o Sinpol e para a Adepol, a saída é a convocação dos 509 aprovados no concurso da categoria, entre delegados, escrivães e agentes. Apesar da necessidade, ainda não há previsão para a nomeação. No início da semana, o Tribunal de Justiça decidiu que o Governo do Estado decidirá quando isso deve ocorrer de acordo com as condições financeiras e o prazo de vencimento do concurso. O sindicato da categoria reivindicava nomeação imediata.

TribunadoNorte

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